segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Entrevista com Omar Sy de 'Intocáveis'


Conte-nos sobre seu primeiro encontro com Olivier Nakache e Eric Toledano.
Foi em 2001, para um curta, CES JOURS HEUREUX, que mais tarde se tornaria NOS JOURS HEUREUX (conhecido como THOSE HAPPY DAYS). Eles me encontraram na época que eu escrevia para o CANAL + Idées com Fred. Eu disse a eles que não era ator e que, por enquanto, me empenhava em escrever piadas e isso era suficiente para mim. Mas eles insistiram, explicando que eles também estavam iniciando, que faríamos o filme e aprenderíamos juntos. Falaram comigo com tanta facilidade e simplicidade que acabei aceitando. Divertimo-nos muito fazendo aquele curta. Então, eles me chamaram para o longa e uma coisa levou a outra...

Quais as suas lembranças de trabalhar com eles em NOS JOURS HEUREUX (conhecido como THOSE HAPPY DAYS)?
As lembranças do meu primeiro acampamento de verão. Nunca tinha ido a um quando mais jovem! (risos). E gosto da maneira que trabalham: eles te dirigem com muita sensibilidade, te deixando muito livre o tempo todo. Mas, na verdade, eles estão te pressionando sem que você perceba.

Você ficou surpreso quando eles te convidaram para interpretar um médico em TELLEMENT PROCHES (conhecido como SO CLOSE)?
Na verdade, quando eles me chamaram para fazer NOS JOURS HEUREUX (conhecido como THOSE HAPPY DAYS), percebi que eles eram caras muito leais. Uma amizade verdadeira se formava entre nós e tornou-se forte desde então.

Quando vocês conversaram sobre INTOCÁVEIS pela primeira vez?
Logo após o término das filmagens de TELLEMENT PROCHES (conhecido como SO CLOSE). Eles me contaram sobre o documentário sobre Philippe Pozzo di Borgo e Abdel, dizendo que queriam fazer um filme sobre isso. O que quer que seja oferecido por eles, sempre sinto que devo segui-los. Isso aconteceu após NOS JOURS HEUREUX (conhecido como THOSE HAPPY DAYS) e mais ainda após TELLEMENT PROCHES.

O que você sentiu ao assistir ao documentário?
Percebi na hora que poderia ser um filme interessante, especialmente com o estilo, a sensibilidade, a precisão, o humor afiado e a profundidade que Eric e Olivier trazem ao seu trabalho. O casamento poderia ser realmente perfeito se encontrassem o equilíbrio certo entre emoção e humor.

O roteiro deles te cativou de primeira?
Sim. Lê-lo confirmou minha primeira impressão completamente. Eu babo pelos textos deles, com todo esse humor, humanidade e verdade. E, com isso em particular, o estilo deles atinge uma nova dimensão.

Como foi a preparação para o papel de Driss?
Discuti sobre isso logo no começo com os diretores. Então tivemos o que eles chamam de “curso de integração”: uma viagem para Essaouira com François Cluzet para encontrar Philippe Pozzo di Borgo. Foi quando a equipe se juntou, quando o encontro aconteceu. Foi o verdadeiro início do filme. Foi realmente um momento incrível. Conseguimos nos comunicar rapidamente e um fácil relacionamento surgiu entre nós. Conhecemos Philippe Pozzo, um homem inteligentíssimo, cheio de vida e humor, com um olhar muito poderoso. Fui instantaneamente atingido pelo amor com que ele falava sobre Abdel, a pessoa em que o personagem de Driss se baseia. A maneira com que ele dizia seu nome era extremamente tocante. Foi fácil sentir a forte ligação entre eles. Após a visita, todos nós nos sentimos responsáveis e sob pressão, devido ao respeito que este homem impõe. Fazer o mais belo filme possível era a única forma de respeitar sua história.

Como você construiu a relação com François Cluzet?
Nós não nos conhecíamos antes deste filme: apenas havíamos nos encontrado de passagem. E quando soube que ele interpretaria Philippe, fiquei feliz e nervoso ao mesmo tempo. Senti-me um pouco apreensivo, sem levar isso muito a sério, mas na hora senti nele um desejo de atuar comigo tão grande quanto o meu desejo de atuar com ele. Daquele momento em diante, tudo aconteceu naturalmente entre nós, sob os obviamente bem-intencionados olhares de Eric e Olivier. Todas as minhas apreensões sumiram imediatamente. François é muito aberto e muito generoso. Uma vez que ele tenha aberto a porta, ele não a fecha. Ele podia ter me colocado sob pressão, dizendo que eu teria que dar meu melhor. Mas ele fez exatamente o contrário. Ele logo me disse: “Estamos fazendo este filme juntos. O importante é o que acontece entre nós”. Senti-me erguido por seu olhar e estímulo. Inspiramos um ao outro, carregamos um ao outro.

Você teve uma apreensão maior do que nos dois filmes anteriores com Eric e Olivier?
Já ter trabalho com eles fez-me sentir mais confortável, assim como a ideia de formar uma dupla, sendo que trabalho em dupla o ano inteiro! Ao mesmo tempo, INTOCÁVEIS foi muito especial. Eric e Olivier exigem um pouco mais de mim a cada filme, então a pressão aumenta necessariamente. Pretendo ser merecedor da confiança que eles depositam em mim.

Houve muito espaço no diálogo para o seu estilo de fala e dicção?
Sim, e esse é outro motivo de eu gostar tanto de trabalhar com eles. Antes das filmagens, acertamos as coisas com várias leituras do roteiro. E então, no set, eles sempre me deixavam livre para tentar coisas. Eles até mesmo encorajam seus atores para fazer isso e lidam com o resultado durante a montagem. Você nunca se sente cercado. Até mesmo durante os takes, eles começam a conversar porque tiveram uma nova ideia de repente. De fato, continuamos procurando pela humanidade e verdade que o assunto requer durante as filmagens, tentando evitar o páthos e piadas pesadas.

Como Eric e Olivier dividem o trabalho?
Não há um método, na verdade. Os dois conversam com os atores e equipe. Eu não consigo dizer quem faz o quê. Mas eles o fazem e completam um ao outro. Dá pra perceber que a cumplicidade deles é de longa data.

As primeiras cenas do filme mostram Driss em seu mundo, nos projetos, um mundo que o cinema sempre tem problemas em retratar sem torná-lo em uma caricatura. O que você achou das cenas?
Estas cenas são importantes para que saibamos de onde Driss vem. E eu acho que elas são ainda mais importantes para mim porque é de lá que eu também venho. Então me sinto responsável: se converso sobre isso, preciso fazer corretamente. Eric e Olivier sabem disso. Ao me oferecerem este filme, eles tinham essa ideia em mente. Eu confiei neles: sinto que o cinema francês nunca falou dos projetos com tanta poesia e delicadeza. Eles não estressam nada, simplesmente relacionam coisas. É neutro porém muito poderoso. Eric e Olivier nunca impõem seus pontos de vista: eles simplesmente expressam o que observaram em imagens. E eu sei que esse é outro motivo pelo qual tenho muito orgulho de ter feito INTOCÁVEIS.

Houve algum tipo de receio em algumas das cenas?
Antes das filmagens, estava apreensivo por conta da cena da confissão de Driss, em que ele começa a confiar em Philippe. Aquilo era algo totalmente novo para mim. Também tive receio da cena com a fala “Sem braços, sem chocolate”. Imaginei como iríamos fazer aquilo no set. Realmente me estressei com essa cena antes de filmá- la. Mas ao começar a filmagem, tudo ocorreu suavemente. Chega um ponto em que você para de fazer perguntas a si mesmo. Apenas deixa-se ser carregado pela energia. Você se sente livre. Nós sentimos imediatamente que estávamos experimentando algo muito poderoso. E foi uma enorme alegria encontrarmo-nos dia após dia. Isso criou uma leve atmosfera que repelia todas as perguntas que eu vinha me fazendo.

Há uma particular cena em que você dança ao som de Earth, Wind and Fire. Quais suas lembranças disso?
Uma coisa que tenho em comum com Eric e Olivier é o amor pela música e pela dança. E essa cena é maravilhosa porque vem logo após a tentativa de Philippe de apresentar a música clássica a Driss. Então há uma troca: Driss quer que ele ouça e compartilhe sua música. Ele não é tão preciso quanto Philippe, mas para ele, o corpo e a dança podem superar isso. De fato, Driss dança para Philippe. Então isto deveria ser o mais prazeroso possível. Mas com Earth, Wind and Fire fica fácil!

Que tipo de ator você é?
Trabalho muito com meus instintos. Reajo mais do que atuo. Tento fazer perguntas antes das filmagens porque sei que é tarde demais quando estamos no set e isso significa que posso me soltar completamente naquele momento. Sei que não possuo muitas técnicas de atuação, mas trabalho antes das filmagens com uma treinadora brilhante, Julie Vilmont, que me ensinou muito. Assim que tenho o roteiro e converso sobre ele com os diretores, me encontro com ela e peço sua ajuda. E esse trabalho com ela me liberta, repele qualquer culpa que eu possa sentir por nunca ter tido aulas de atuação. Não peço mais desculpas por estar ali.

Qual sua reação ao assistir ao filme?
Após os três primeiros minutos – e isso é algo novo para mim – deixei-me ser guiado pela história. Na verdade, não havia visto nada das filmagens no set. Para este filme, evitei ver as amostras para me manter no personagem. E então, ao ver o filme, redescobri esta história nutrida pelo trabalho de toda equipe. Tenho muito orgulho desse filme. Fiquei encantado com a emoção nos olhos de Philippe/François. Demorei muito tempo para voltar ao normal.


Fonte:
Entrevista traduzida e enviada pela www.californiafilmes.com.br via www.espacoz.com.br

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