quinta-feira, 24 de maio de 2012

Palestra sobre Literatura Juvenil e a Formação de Leitores

(Luis Eduardo Mata - Rio de Janeiro - 2012)

No começo da história da atual humanidade, a escrita e consequentemente a leitura, era para poucos. Só a elite de cada povo tinha o direito a aprender a ler e escrever. Geralmente sarcedotes, que detinham o poder da informação e do que dizer e não dizer ao povo analfabeto, pois política e religião era basicamente a mesma coisa.

Somente com a criação da primeira forma de alfabeto, pelos Fenícios, que viria a inspirar a criação de outros, como o grego e romano, que chegamos as letras alfabéticas que se usam hoje em dia, especialmente no mundo ocidental. E o alfabeto foi decisivo para propagar o conhecimento entre os povos... Ou deveria.

Foi através do alfabeto, que iniciou-se uma longa luta pelo direito a informação. Afinal sem o conhecimento, os povos do mundo não podem lutar por seus direito, nem mesmo pensar em leis justas, democráticas e que permitam a igualdade em uma nação; sem preconceito de raças, sexos e religião. Sem conhecimento o povo é facilmente manipulado e acreditará em qualquer coisa que os soberanos/ditadores falarem, por não serem capazes de pensar si mesmo.

Uma nação não é feita por uma religião, ou só por um sexo, nem por uma cor de pele, logo as leis devem ser feita para todos, não para uma elite, ou minoria eletista que se acha melhor que os outros e por isso, teriam o direito de serem beneficiados com maior conhecimento e os outros não.

Para se ter direitos iguais, antes de tudo o povo precisa ter discernimento e conhecimento é fundamental. Ter acesso a informação e discutir com outros, o que funciona e o que precisa ser revisto e reformado é fundamental. Para isso, ser alfabetizado é importe. Porém ser um leitor é ainda mais. Saber ler e escrever, nem sempre significa buscar o conhecimento.

Em países no mundo, onde o livro é visto como algo chato ou para poucos, é importante que a leitura por prazer seja estimulada, para que então o povo continuem sua busca por mais pela própria vontade. Muitas vezes um livro policial fantástico e totalmente fictício, pode inspirar meninos e meninas a se tornarem investigadores de policia, histórias de ficção científica podem inspirar outras crianças a buscar pelo conhecimento científico e dar ao país novos cientistas. Porém para isso, precisam ler sem medo, sem obrigação, apenas pelo puro prazer de ler.

É com essa ideia em foco, que Luis Eduardo Matta iniciou sua palestra na terça passada, na Academia Brasileira de Literatura, no centro do Rio de Janeiro. Dizendo primeiramente que devemos tratar o livro por VOCÊ e não por VOSSA SENHORIA, pois o livro deve ser uma companhia agradável e não uma obrigação enfadonha.

Luis Eduardo Matta falou sobre o processo da leitura no Brasil ser historicamente negligênciado, enfatizando o absurdo de ainda hoje muitos acreditarem na leitura elitizada. Que o povo não precisa ou deveria precisar ler. O povo ignorante e sem cultura, deve continuar assim e muitos se espantam ao ver que se devidamente apresentando, a algo sofisticado como a música clássica, até um analfabeto trocaria a música popular (que infelizmente andou decaindo nas últimas gerações), por Mozart ou outros compositores clássicos.

A música erudita, assim como a literatarua não precisa ser proibida para o povo, dever ser apresentada de forma correta e ter o acesso menos restrito. Só assim as pessoas por si, poderam decidir se querem ou não buscar mais daquele conteúdo. Não pode existir restrições de classes sociais no que diz respeito a cultura de um país, todos possuem o direito a ela.

Pessoas repetem certos "mitos" sem saber de quando e como surgiram, por isso não devemos afirmar que o brasileiro não gosta de ler, não dá para dizer isso de algo que não se conhece.

Assim como a música, precisamos conhecer melhor a literatura. Ser leitor é ler por prazer, não por obrigação ou necessidade. E o que o autor faz em suas palestras, é exatamente ir as escolas para incentivar a leitura pela simples paixão por boas histórias. Luis Eduardo Matta confesso que é sempre bem recebido pelos jovens para os quais ele faz tais palestras, que inclusive falam de livros que leram e de quais gostaram. Trocando informações que a escolas e editoras deveriam buscar, antes de dizer que os alunos não gostam de ler.

O autor lembra que foi assim que ele próprio descobriu o gosto pelos livros, graça a uma prazerosa leitura escolar, pois graças ao bom senso de sua professora, foi dado a ele a chance de ler um livro adequado a sua idade e não um clássico, escolhido sem a mínima noção. Os clássicos da literatura brasileira são ótimos, mas os professores e orientadores escolares precisam entender que não são livros para despertar o hábido de ler e sim para aprimorar.

Um exemplo de livro que desperta tal interesse é o fenômeno mundial Harry Potter, que Luis Eduardo Matta relatou que surgiu num momento crucial, que o mundo começou a se conectava. Foi quando o autor assistiu a uma palestra de um renomado profissional da informática da época, que afirmou que a digitalização global e a internet acabariam com os livros. Luis Eduardo Matta até afirmou que ficou deprimito com a previsão apocalíptica. Depressão que durou apenas um ano, pois para sua alegria o fenômeno Harry Potter correu o mundo e chegou inclusive no Brasil, formando jovens leitores que até então, não tinham interesse algum por leitura, muito menos de livros em série e menos ainda por aqueles grandes tijolos, como era o caso de alguns dos volumes da série literária de J.K. Rowling.

Curiosamente foi a internet que trouxe os livros do bruxinho da autora inglês ao Brasil. O sucesso mundial tornou os livros roteiros promissores para adaptações cinematográfica e muitos que ainda não tinham se rendido a leitura, após verem o primeiro filme da franquia, foram a busca dos livros.

Luis Eduardo Matta se preocupa em saber o que o jovem lê, o que procura em uma leitura e o que os professores estão indicando a eles. Suas palestras nas escolas são com esse propósito de trocar ideias entre todos e quem sabe uma mudança de postura tanto dos alunos como dos educadores. Infelizmente nem sempre um jovem tem o devido incentivo em casa, porque em geral os pais também não tiveram. Às vezes nem possuem livros em suas residências e algumas vezes, quando há livros, são aqueles de gosto dos adultos da casa e não um direcionado ao jovem morador.

Por isso é importante o incentivo dos professores e das escolas manterem bibliotecas atualizadas com pelo menos um exemplar da literatura jovem, tanto mundial, como nacional, que atualmente conta com vários autores que assim como Luis Eduardo Matta escrevem para esse público e de gêneros variados, desde os thrillers aos chick-lit, das comédias aos de terror, ou um pouco de cada, dependendo do autor. Livros que não possuem diálogos arcáicos e que "conversam" com os jovens. Porque mesmo que Shakespeare seja um ícone mundial e suas histórias falem a todos, não são seus textos que vão chamar a atenção dos jovens mais as histórias inspiradas neles, como o roteiro de '10 coisas que odeio em você', que foi inspirado em 'A Megera Domada', ou a versão em quadrinhos de 'Romeu e Julieta' da Turma da Mônica.

Os professores e as escolas precisa se adaptar aos alunos e não o contrário. Talvez se incentivasse por exemplo, produções escolares de filmes, muitos desses bullying filmados sairiam da rede e seria substituidos por curtas metragens, que no futuro poderiam inspirar meninas e meninos a criar suas próprias histórias, formando os escritores e roteiristas do amanhã.

No entanto, há escolas com conteúdos tão ultrapassados que chegam ao absurdo de manterem gabaritos antigos de provas sobre livros, que passam de professor para professor; ao ponto de, sem mesmo lerem os livros, esses passarem a corrigir provas dissertativas, como uma múltipla escolha, com base no gabarito antigo.

A leitura terá sempre rivais de peso, como a TV, cinema, computadores e games, mas se souberem reuní-los em uma única boa história, serão aliados. ("Se não pode vencê-los, junte-se a eles.") E novamente vamos mencionar o femômeno de Harry Potter, que vai dos livros para o cinema, passa pelo games, está presente na internet que ajudou a levá-lo para partes do mundo que até então não se pensava alcançar, como é o caso do Brasil. E que provavelmente no futuro ganhe uma minissérie ou uma série de TV, que recontará todo a história e será vista pelos antigos fãs e formará uma nova geração de fãs/leitores.

É com esse pensamento que Luis Eduardo Matta faz as palestras nas escolas, buscando formar novas gerações de leitores, que irão crescer adultos melhores, que não se deixaram iludir por palavras vazias de reality show, os quais só servem para incentivar a ignorância e a bitolação do povo. Quem sabe uma nova geração que irá investir em seus jovens através de livros e roteiros de qualidade, pois as boas histórias, mesmo fictícias, fazem os leitores pensar.

Saiba mais sobre o autor em seu site oficial:
www.lematta.com

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