quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Vampiras Paulistanas em Solo Carioca - Entrevista



VAMPIRAS PAULISTANAS EM SOLO CARIOCA


Martha Argel e Giulia Moon, Duas autoras paulistanas de literatura fantástica, especialmente literatura sobre vampiros, estiveram em uma mesa redonda promovida pela livraria Saraiva Mega Store do Rio Sul, no último dia 16 de Outubro mediada pelo também autor Luis Eduardo Matta.

Simpáticas como sempre, ambas foram promover o lançamento de seus novos livros: Kaori – Perfume de Vampira de Giulia Moon e O Vampiro da Mata Atlântica de Martha Argel além do livro de contos Amor Vampiro que ambas assinam contos vampirescos com outros escritores.

Com um público fiel de quase quarenta pessoas, elas ficaram durante uma hora e meia de bate papo sobre como começaram suas carreiras de escritoras, o porquê do fascínio pelo personagem vampiro, a volta da febre de vampiros por conta da série de livros Crepúsculo além das dificuldades de se publicar literatura fantástica no Brasil; as duas esbanjaram simpatia e conhecimento sobre o assunto. Martha Argel ainda prometeu que a continuação de Relações de Sangue, Amores Perigosos deve sair no ano que vem.

No final do evento, elas ainda cederam alguns minutos de seu tempo para dar uma entrevista exclusiva à rádio Digital Rio. Confiram:

Digital Rio: De Onde surgiu a paixão pelo personagem vampiro?

Giulia Moon – Eu sempre tive uma atração irresistível por vilões. Desde pequena eu sempre gostei muito de séries de fantasia, então eu comecei a desenhar mangás em vez de escrever. Eu gostava muito de histórias de terror porque os vilões eram maravilhosos. Entre todas as criaturas, o vampiro tinha um charme irresistível. Ele tem uma aparência muito próxima das pessoas, muito do ser humano. A atração por esse personagem é uma coisa até natural especialmente para quem escreve ficção. Você pode fazer histórias de todos os tipos, pode explorar o personagem tanto é, que os nossos livros exploram o personagem vampiro de formas diferentes. Acho que o vampiro é uma criatura mais evoluída em termos de vilões.

Martha Argel – Eu sempre gostei de literatura fantástica, mas até um tempo atrás eu nunca tinha prestado atenção no vampiro. 10 anos atrás eu vi “Entrevista com Vampiro” em uma livraria, depois acabei lendo “O vampiro Lestat”; ambos da Anne Rice. Li o livro e achei interessante e não li mais nada sobre vampiros. Comecei a ler livros de vampiros como análise do personagem vampiro o que me fez ficar completamente fascinada não do personagem como vilão mas do potencial como metáfora. A gente pode usar o vampiro para falar de qualquer coisa: morte, vida, amor, violência, política. Achei interessante que em um personagem só tivesse tantas facetas diferentes e comecei a escrever algumas coisas. No começo muito calcada em Anne Rice que era a ficção que eu conhecia, e com o tempo fui vendo as várias facetas do vampiro.

Digital Rio: Há Quanto Tempo vocês escrevem Literatura Fantástica?

Martha – Eu escrevo literatura fantástica desde que era criança. Naquela época eu achava que eram redações, mas histórias assim com componentes de ficção científica, ou de fantasia, magia... É um tipo de coisa que eu não me consigo ver escrevendo um texto de ficção sem fantasia. Eu já tentei e não consegui.

Giulia – Eu escrevo há dez anos. Eu comecei a escrever em 2000 e era mais para mim. Eram algumas histórias alguns mangás que eu desenhava, mas eu comecei a escrever regularmente no ano 2000 quando eu entrei no grupo “Tinta Rubra” de vampiros. Eu achei um site na Internet chamado “Anne Rice BR” e como eu gostava muito das histórias da Anne Rice eu procurei um site e vi que lá tinham autores brasileiros de vampiros e aí eu mandei um conto meu que era a aventura da vampira Maya que é uma das minhas personagens. O dono do site que era o “Deus Noite”, ele me escreveu dizendo que eu escrevia bem e que estava formando um grupo de pessoas que gostavam de histórias de vampiro chamado “Tinta Rubra”, e me convidou para entrar no grupo que na época, tinha três pessoas.

Digital Rio: Na sua opinião, qual o motivo da febre de vampiros ter voltado com a série de livros Crepúsculo além de séries como True Blood e Vampire Diaries?

Giulia – Porque o vampiro é muito legal. O vampiro como personagem é ótimo. Eu acho que todo mundo gosta um pouco de vampiro. Acho que cada vez que você vem com uma proposta diferente para histórias de vampiros, a tendência é fazer sucesso mesmo. A série Crepúsculo, por exemplo, pegou naquela veia adolescente que gosta de uma história de amor mesmo que seja uma história de amor com um imortal, um príncipe encantado vampiro. Então acho que foi uma proposta diferente que caiu no gosto do público. Assim como todos esses seriados que estão aparecendo agora que começam a explorar outras facetas do vampiro. E acho que estão trazendo uma paixão que já existia lá dentro de todo mundo.

Martha – Eu não sei se pode falar em um retorno do vampiro porque desde que o vampiro apareceu na literatura no começo do século 19, ele praticamente nunca mais saiu de moda. Ele vai mudando, a forma como o vampiro interage com a humanidade, ela vai mudando. De uma forma ou de outra, o vampiro sempre esteve na moda. O que é interessante é que o vampiro vai acompanhando as evoluções tecnológicas, então o vampiro era conhecido no século 19, fazia sucesso, mas no século 21 a forma como ele faz sucesso é como todos os fenômenos de massa. Ela é muito mais intensa, muito mais vigorosa. Então esse aumento na popularidade do vampiro, na verdade está muito mais em função de um aumento da comunicação de massa já que vivemos na era da comunicação do que propriamente do vampiro em si. Ele sempre teve o seu quinhão de fama. Mas agora realmente ele é um superstar. Foi isso que aconteceu.

Giulia – O vampiro também se adapta a qualquer forma. Você vê o vampiro no RPG é um sucesso. Você vê animes de vampiro, quadrinhos, Então eu acho que é um personagem que tem seu charme qualquer que seja o veículo.

Digital Rio: Contem um pouco sobre os novos livros de vocês: Kaori – Perfume de Vampira e O Vampiro da Mata Atlântica. Qual foi a inspiração de vocês para escrevê-los?

Martha – O Vampiro na Mata Atlântica é o terceiro romance que eu escrevo ,segundo que sai publicado já que tem um inédito, e ele é insólito na minha carreira, no meu histórico de escrita porque ele junta muito bem o meu fascínio pela ficção com a minha formação biológica. Uma coisa que para mim foi muito diferente escrever esse livro foi conseguir transmitir uma linguagem mais acessível para pessoas que não tem uma formação biológica, todo o fascínio, toda a prática de campo, que os biólogos têm em campo. Então, eu consegui transmitir coisas da minha profissão, coisas que fazem com que o biólogo se apaixone por sua profissão, seu trabalho científico, de uma forma que em geral os biólogos não conseguem traduzir. Eu fico feliz de divulgar a existência desses profissionais que estão fazendo de tudo pela preservação do Meio Ambiente no país.

Giulia – Kaori é o meu primeiro romance. Até agora só tive livros de contos, e explorei várias facetas do vampiro e a Kaori já tinha aparecido em alguns contos passados. E é uma vampira japonesa, os vampiros japoneses são um pouco diferentes porque o temperamento do japonês é bem diferente do temperamento do ocidental. E eu tendo na minha descendência, eu sou nissei, então eu convivo com esses dois lados dentro de mim de certa forma. Kaori foi um resgate do meu lado oriental. Então metade do livro, foi como se fosse o meu lado oriental, que se passa com samurais, cortesãs e todo aquele cerimonial japonês, aparecem criaturas mitológicas do universo japonês, são muito diferentes do folclore brasileiro ocidental. A outra metade se passa em São Paulo que é uma miscelânea de raças, de credos, de sons, de cores, e entre eles, São Paulo é muito oriental. Até na comida o paulista é muito oriental. A cultura japonesa é muito bem aceita em São Paulo. Essa miscelânea de juntar opostos, na mesma história que me levou a escrever meu lado paulista de Kaori. Que a Kaori vem dessa época feudal japonês até os dias de hoje, viver uma aventura em São Paulo no ritmo frenético da cidade. Kaori é um marco na minha vida além de eu voltar para olhar esse meu lado oriental, também é o meu primeiro romance.




Digital Rio: Quais são os seus autores, filmes, e livros favoritos (relacionados a vampiros ou não)?

Martha – Eu sou uma pessoa ligada muito com literatura então eu não sou muito cinéfila. De livros tem as damas como H que são as minhas autoras favoritas Lorel K Hamilton, Kim Harrinson, Charlene Harris e Tania Huff. Elas escrevem uma literatura feminina que o pessoal de São Paulo tá chamando de “Sangue com Açúcar”. É uma linha Agatha Christie, que mistura mistério com assassinato, mas também tem muita sedução com uma visão muito feminina. Eu me inspirei nelas para escrever “Relações de Sangue”.

Giulia – Dois filmes de vampiros que eu gosto muito são Drácula do Bram Stoker e Entrevista com Vampiro, têm algumas cenas da Rainha dos Condenados, a música eu também gosto. Adoro animes de vampiros. Tem uns antigos chamados Vampire Hunter D que é muito legal, o Helsin que é muito bacana. Na literatura eu gosto da Anne Rice com toda certeza. Foi ela que me inspirou a escrever meu primeiro conto de vampiros. Toda a obra do Neil Gaiman, os quadrinhos, os livros que eu adoro. Eu adoro os contos e livros do Stephen King. Eu comecei a escrever terror por causa do Edgard Allan Poe que é incomparável.

Martha – De filme, o meu favorito é Garotos Perdidos. Também gosto muito de um filme chamado Inocente Mordida, acho um filme maravilhoso e tem A Hora do Espanto 1 com o Chris Sarandon.

Digital Rio: Vocês sofreram preconceitos por editoras ou pela própria classe literária por escrever literatura fantástica?

Martha – Eu comecei a publicar livro antes da Giulia e tinham editoras que não aceitavam publicar livro se tivesse sangue na capa. Distribuidoras que não distribuíam certos tipos de livro porque eram “do mal”. Ainda existe um certo preconceito sim. Há vários preconceitos entre as editoras (livro grosso não vende, não publica ficção...). Esse tipo de literatura está se impondo mais pelo público. Quando começou a febre de Harry Potter, uma editora me pediu para escrever um livro sobre magia, quando eu lancei os “Contos Enfeitiçados”, nunca uma editora ia pedir antes um livro sobre bruxas.

Giulia – Quando eu comecei não havia um preconceito, mas um desconhecimento. Não havia conhecimento das editoras em publicar livros de fantasia. Não acho um preconceito, mas sim uma ignorância das editoras.

Digital Rio: Como Surgiu a idéia de Produzir o Ficzine?

Martha – Foi em um evento que surgiu a idéia de fazer o fanzine. Essa coisa do fanzine é muito legal porque qualquer um faz, qualquer um dita as regras. Você faz e distribui para a sua turma, não existe nenhum tipo de censura, não existe nenhum tipo de restrição, simplesmente você vai lá e faz. Com o material que você tem, com os recursos que você tem, então o fanzine é uma coisa muito espontânea, muito democrática. E a gente pensou em fazer uma publicação que a gente pudesse distribuir de graça para as pessoas. Elas não vão precisar comprar a nossa obra, para saber como a gente escreve. Então é uma forma de dar um gostinho do que a gente escreve. Sempre convidamos alguém que achamos legal para formar um trio comigo e a Giulia e cada um escreve um conto. Em geral, pessoas que já tem um fã clube. Na época que começamos tinha muitos poucos leitores então era uma forma de aumentar o círculo de leitores, os leitores dela iam lendo meus contos e da terceira pessoa e assim aumentando o público leitor.

Digital Rio: Esses contos vão chegar a ser publicados?

Giulia – Pode ser que sim. A gente tem umas idéias a respeito.


Digital Rio: Como o tema da palestra foi vampiro – De Vilão a Mocinho, para vocês o vampiro é vilão ou mocinho?

Giulia – Os dois ne?

Martha – Eu gosto de vampiro mocinho, mas quando é completamente bom não rola. Não dá para encarar.

Giulia – Ninguém é completamente bom ou completamente mau.

Martha – Quem é muito bonzinho não tem graça nenhuma, essa que é a verdade.

Digital Rio: Vocês preferem o vampiro bom ou mau?

Giulia – Mau. Sedutor

Martha – O mal tem que ser sedutor. Tem que ter pegada.

Digital Rio: O vampiro é o único ser sobrenatural que vocês escrevem ou vocês também escrevem sobre outros seres como lobisomem, fantasma, bruxa etc?

Giulia – Nos meus contos principalmente eu já explorei vários personagens, da mitologia brasileira inclusive. Acho que o que eu gosto mesmo são de criaturas fantásticas. Com certeza o vampiro é um dos meus prediletos tanto que a maior parte da minha produção fala de vampiros.

Martha – Da mesma forma, os vampiros conseguiram dar uma mordida em um pedacinho do meu coração, então sempre tem prioridade, mas eu tenho um livro que é o “Livro dos Contos Enfeitiçados” que é sobre magia. E eu tenho pensado em escrever um livro sobre lobisomens, contos de ficção científica, também tem extraterrestres. Tem contos com seres malévolos, a gente acaba explorando várias vertentes da onde a imaginação humana pode levar a gente. Mas os vampiros têm um lugar especial no meu coração humano.

Digital Rio: Que dicas vocês dão para jovens escritores que estão começando agora?

Martha – Uma coisa que a gente sempre diz é, tanto a Giulia quanto eu, para as pessoas que estão começando a escrever é: Primeiro, por que você está escrevendo. Por que você escreve? É porque te dá prazer? É porque você quer publicar? É porque você quer fazer sucesso? É porque você quer ganhar dinheiro? Cada nível de expectativa, ele traz dentro de si um potencial de frustração. É o que a gente sempre diz: escreva porque você gosta. Primeiro motivo para você escrever é porque aquilo te dá prazer porque você se sente bem escrevendo, porque é uma forma de você se expressar. Se você puser outros objetivos você corre o risco de ficar frustrado e não se satisfazer mais. Eu escrevo porque quero fazer sucesso, e se você não fizer sucesso? Todo tempo que você gastou escrevendo vai ser tempo gasto. Por você não ter alcançado seu objetivo, mas isso é como tudo que a gente faz na vida. O objetivo principal porque você faz uma coisa é porque aquilo te dá prazer. Porque você gosta de fazer aquilo, aquilo te preenche, te completa de alguma forma.

Giulia – Se você vai escrever seja o melhor leitor de você mesmo. O bom leitor não é aquele que acha bom tudo que o autor escreve. O bom leitor é aquele que sabe analisar, que sabe criticar, que tem um distanciamento no que está lendo, que consegue analisar e principalmente se divertir. Saiba ler seus próprios livros com o mesmo espírito que você lê os livros que você compra por aí. Seja o seu melhor critico.

Martha – Outra coisa que é importante, escrever na verdade é reescrever. Então tem um chavão já batido que diz que escrever é 10% inspiração e 90% transpiração. Não tenha a ilusão de que o que você escreveu de um jato saiu perfeito. O que a gente escreve deve ser reescrito. Relido N vezes. Reescrito. Você tem que burilar o seu texto. Escolher as palavras vê se aquilo soa bem, vê se é aquilo mesmo que você tá querendo dizer. Se não tem uma maneira melhor de dizer, porque isso que vai trazer a qualidade do seu texto. E um texto bem trabalhado, um texto pensado, não é um texto feito de qualquer forma, aleatório da primeira forma que aparece. Você tem que trabalhar o texto, ler muito, ter cultura, tem que saber sobre o que você está escrevendo, você tem que dominar o assunto. É uma série de cuidados que a gente tem que ter uma série de requisitos que senão você não vai conseguir uma coisa melhor do que todo mundo pode fazer. E para você se satisfazer, você tem que se superar. Você tem que fazer uma coisa que realmente seja diferente

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