quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

#AsSufragistas - A Cidade das Sufragistas

(O texto a seguir é cortesia do Museu de Londres, Inglaterra)


Até 1900, as mulheres vinham fazendo campanha pelo direito de voto nas eleições parlamentares por mais de meio século. Cinquenta anos de protestos pacíficos, no entanto, não conseguiram suscitar interesse suficiente no movimento do Sufrágio para provocar uma reforma e as mulheres, junto dos prisioneiros, dos insanos e dos homens mais pobres, continuaram a ser excluídas do processo parlamentar.

Em 1903, a campanha “votos para mulheres” foi energizada pela criação da União Social e Política das Mulheres. Fundada em Manchester por Emmeline Pankhurst e suas filhas, a WSPU tinham o objetivo de “despertar a nação” para a causa do Sufrágio Feminino por meio de “Ações, não Palavras”. A decisão de transferir a sede da WSPU para Londres em 1906 transformou o movimento do Sufrágio e, nos oito anos seguintes, a luta para ganhar o direito ao voto se tornou amplamente pública e, em alguns momentos, uma batalha violenta desenrolada no cenário de Londres na era Eduardiana.

A WSPU irrompeu nas ruas de Londres numa época em que as mulheres participavam pouco da vida pública, sendo seu papel na sociedade firmemente concentrado na vida doméstica e familiar. As Pankhursts instigavam em suas apoiadoras um “espírito de revolta” que desafiava diretamente esta sociedade dominada pelos homens ao trazer as mulheres para a vanguarda da vida pública.

Ao levar sua campanha para as ruas, as Sufragistas atraíram publicidade máxima para sua causa. Identificadas por seu esquema de cores roxo, branco e verde, elas se tornaram uma presença familiar no centro de Londres. As procissões nas ruas eram anunciadas por bandas de música que tocavam as marchas das Sufragistas e as reuniões e os eventos eram divulgados por paradas de mulheres carregando cartazes e em avisos em giz na pavimentação. A mudança para o coração político da nação permitiu às Sufragistas manter uma presença constante em Whitehall, fazendo manifestações na Downing Street, importunando os membros do parlamento e se acorrentando aos prédios do governo.

A base em Londres também promoveu o perfil internacional da campanha e proporcionou oportunidades para a montagem de manifestações com elementos cênicos visualmente espetaculares, cuja finalidade era convencer o governo de que este era um movimento em massa com apoio em massa. O Domingo das Mulheres, a primeira “reunião monstro” a ser realizada pela WSPU, em junho de 1908, trouxe para a capital Sufragistas de todo o país para marcharem em sete diferentes procissões pelo centro de Londres até o Hyde Park. As manifestantes chegavam em trens especialmente fretados, vindas de mais de setenta cidades e, ao chegar Hyde Park, eram recebidas por mais de oitenta oradoras. A manifestação altamente coreografada atraiu uma multidão de cerca de 300.000 pessoas, encantadas pelo espetáculo colorido das representantes vestidas com as três cores das Sufragistas e carregando mais de setecentas faixas bordadas. “Nunca”, noticiou o jornal Daily Chronicle: “uma aglomeração tão vasta se formou em Londres para testemunhar uma parada de forças políticas”.

A Coroação de George V três anos mais tarde inspirou a WSPU a organizar seu próprio e espetacular cortejo de coroação, numa tentativa de conquistar o apoio do novo Rei. A Procissão de Coroação das Sufragistas ao longo de 6,5 quilômetros pelo centro de Londres culminou em uma manifestação no Royal Albert Hall e envolveu mais de 60.000 representantes dos grupos de sufrágio tanto regionais, quanto internacionais, vestidas com trajes de época nacionais e históricos.

A campanha das Sufragistas foi planejada a partir da sede da WSPU, inicialmente estabelecida em 4 Clement’s Inn, The Strand e, a partir de 1912, em Lincoln’s Inn, Kingsway. Equipes de escritório, tanto assalariadas, quanto voluntárias, organizavam eventos para levantar recursos, reuniões públicas e manifestações e produziam o periódico semanal Votes for Women que, em 1909, tinha uma circulação de 22.000 exemplares. A WSPU estabeleceu noventa filiais em todo o Reino Unido, mas Londres permaneceu a área principal de apoio, com um total de trinta e quatro escritórios locais. Os membros das filiais realizavam reuniões regulares, organizavam eventos para levantar recursos e apoiavam o trabalho das sedes nacionais, participando de manifestações e procissões.

Em 1910, o braço editorial da União, The Woman’s Press, mudou-se para 156 Charing Cross Road. As dependências foram escolhidas por sua proximidade à Oxford Street e incluíam uma loja, que vendia diversos produtos das Sufragistas, incluindo distintivos, livros, cartões postais e itens de papelaria. O sucesso comercial do negócio levou à abertura de dezenove lojas semelhantes na área de Londres, desde Chelsea e Kensington no oeste até Streatham e Wandsworth no sul, Mile End e Limehouse no leste e Hampstead e Kilburn no norte.

Mais de mil Sufragistas, incluindo Emmeline Pankhurst e suas filhas Christabel, Sylvia e Adela foram condenadas a reclusão por sua militância. Muitas foram enviadas para o presídio de Holloway, no norte de Londres, onde protestavam contra as condições da prisão, suportando greves de fome e alimentação forçada.

A partir de 1912, a WSPU mudou o foco de sua campanha para ataques à propriedade e a perturbação da vida pública em Londres. Uma campanha organizada de quebra de vidraças por 150 Sufragistas em maio de 1912 devastou o bairro comercial de Londres e foi o motivo da declaração de Emmeline Pankhurst de que o protesto, que durou uma hora, “será lembrado por muito tempo em Londres”. O ataque das Sufragistas a obras de arte, incluindo a retaliação da Vênus ao Espelho na National Gallery, resultou na proibição por muitas galerias de arte e museus em Londres da entrada de visitantes do sexo feminino. A militância frequentemente provocava confrontos com a polícia e com cidadãos, resultando em brigas de rua e desentendimentos desonrosos.

Para muitos dos opositores da campanha, a militância das Sufragistas era considerada uma ameaça à ordem social e sexual equilibrada, em que homens e mulheres habitavam esferas diferentes.

As Sufragistas eram frequentemente taxadas de mulheres estridentes e histéricas, responsáveis por, de fato, distorcer fisicamente a face e a forma da mulher ideal, pura e feminina, como mãe. Mostradas pela imprensa nacional sendo presas, gritando, se acorrentando a grades de proteção e fazendo discursos políticos inflamados em público, elas também eram satirizadas na cultura popular como feias megeras vestidas com trajes masculinos.

A deflagração da Primeira Guerra Mundial trouxe a suspensão imediata da ação militante, pois as próprias Sufragistas atiraram-se ao apoio aos esforços de guerra. Levando sua luta para as ruas e fazendo de Londres o foco de sua campanha, as Pankhursts haviam revigorado o movimento do Sufrágio e inspirado, em suas apoiadoras, uma confiança e uma independência que as permitiam desafiar a sociedade dominada pelo sexo masculino na qual viviam. Seu trabalho abriu o caminho para as mulheres assumirem um papel mais ativo e público na sociedade durante a guerra. Sua contribuição com os esforços de guerra provou que as mulheres eram vitais não apenas para a vitória, mas também para o êxito econômico em longo prazo do país – sendo este valor reconhecido com a concessão do voto em eleições parlamentares às mulheres abastadas com idade acima de trinta anos em 1918.

O filme 'As Sufragistas' estreia amanhã, dia 24 de dezembro, nos cinemas de todo o Brasil.

Leia a análise crítica do filme:
http://digitalriojacarepagua.blogspot.com.br/2015/12/as-sufragistas.html

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Fonte: Material traduzido e divulgado pela Universal Pictures

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